Beto Albert (Diário)
O chimarrão, tão apreciado pelos gaúchos - argentinos, castelhanos, catarinenses e paranaenses - tem um dia dedicado especialmente a ele: 24 de abril. A data é instituída pela Lei Estadual nº 11.929, de 20 de junho de 2003. Além disso, por ser tão presente no cotidiano, é considerada bebida símbolo do Estado do Rio Grande do Sul. Mas, para além do que regulamentam as leis, o chimarrão - também chamado de mate - não tem nada de amargo em seu significado, pelo contrário: é uma marca de hospitalidade e amizade.
A bebida feita à base de uma infusão de erva-mate, servida em uma cuia, é um legado dos povos indígenas. Conforme relata a historiadora Janaína Souza Teixeira, o costume é originário da nação Guarani, datado ainda antes de Cristo. Nos primórdios, a erva chamada de “caá” era usada pelas tribos como ritual religioso. Com a chegada dos padres jesuítas - que desconheciam totalmente aquele costume -, a bebida foi proibida. Os anos passaram e os colonizadores começaram a ver a erva-mate com outros olhos. Primeiro, com viés econômico, por meio de plantios das erveiras, que poderiam alimentar a exportação e consequente manutenção das missões jesuíticas. O segundo, o nutricional, pois trazia mais energia para quem mantinha o hábito.
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-As pesquisas mostram que, provavelmente, o uso era inicialmente ritualístico. Não era dessa forma como conhecemos hoje. O colonizador é quem instituiu o chimarrão como uma forma de conversa e socialização. Por isso, ao longo desse processo, até chegar à indústria do mate, tivemos algumas mudanças nas formas de tomar o chimarrão - afirma Janaína.
Com o passar do tempo, o mate caiu no gosto popular dos habitantes do sul do Brasil e países vizinhos, como Argentina, Uruguai e Paraguai. No Rio Grande do Sul, especialmente, a bebida é vista como uma forma de manter viva a tradição dos antepassados. Para o coordenador da 13ª Região Tradicionalista, Luiz Marcos Pozzobon Júnior, a bebida representa a fraternidade do povo gaúcho e por isso é incentivada dentro dos Centros de Tradições Gaúchas (CTG). Conforme explica, o chimarrão é capaz de conectar pessoas de diferentes idades, culturas e ideologias.
- Além de ser um símbolo da cultura e tradição gaúcha, é um elemento de amizade. Quando se acordava de manhã, antigamente, nas estâncias e galpões, se mateava. O mate passava de mão em mão, e continua assim. O chimarrão faz parte do cotidiano gaúcho - afirma.
Propriedades nutricionais do chimarrão
A erva-mate, utilizada para o preparo do chimarrão, é da espécie Ilex paraguariensis. A árvore tem suas folhas e galhos colhidos, secos e triturados. O processo que antes era manual, atualmente é feito de forma industrial. Entretanto, além dos aspectos culturais, o chimarrão também pode ser considerado uma bebida nutritiva. Conforme a nutricionista Cátia Regina Storck, a infusão - água quente sobre a erva, dilui compostos como a vitamina C e E. Isso quer dizer que ao tomar chimarrão, o corpo recebe propriedades antioxidantes, cicatrizantes, e de crescimento e manutenção dos tecidos corporais. Além destas, vitaminas do complexo B, também presentes na erva, atuam no sistema nervoso central. Elas são as responsáveis por ajudar na circulação sanguínea e no crescimento e divisão celular.
Outro benefício, segundo a nutricionista, é a proteção contra efeitos negativos dos radicais livres, como o envelhecimento das células. O hábito que algumas pessoas têm de tomar o chimarrão pela manhã ou enquanto estudam e trabalham não acontece à toa. A cafeína presente na erva-mate é eficaz na aceleração do metabolismo, aumentando a energia e reduzindo a sensação de fadiga.
- O chimarrão não tem contraindicação, a não ser para pessoas que tenham mais sensibilidade a água quente. Apenas para crianças menores de dois anos, nós não recomendamos, justamente pela presença da cafeína. Cada pessoa tem uma sensibilidade diferente. Tem pessoas que só com uma cuia de chimarrão podem ficar mais alertas. Para outras, isso pode atrapalhar o sono. É uma situação que varia - diz a nutricionista.
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